A instalação de redes 5G se tornará um ativo estratégico para os países da América Latina ao exercer um papel semelhante ao que hoje desempenham portos de carga, aeroportos ou rodovias nos processos de tomada de decisão para novos investimentos nas empresas, disse em entrevista Lucas Gallitto, diretor da GSMA para a América Latina, no âmbito do Mobile World Congress (MWC).
O MWC 2023, realizado em Barcelona, tem tido que lidar com algumas críticas relativas ao sucesso do 5G e às expectativas criadas em torno da rede. No entanto, a indústria está convencida de que o verdadeiro potencial da rede está na oferta de novas soluções para aumentar a produtividade das indústrias, enquanto a maior parte das necessidades do segmento de consumo pode ser atendida pelo 4G. .
Enquanto os consumidores possam não ver um benefício significativo na transição de 4G para 5G, quando baixam um filme, por exemplo, “o que o 5G vai fazer é dar uma ferramenta de aumento de produtividade às nações e será um ativo estratégico para os países, um novo elemento a considerar para as empresas que querem investir”, indicou.
Acrescentou que esta rede se tornará uma ferramenta de produtividade não só para as nações, mas também para municípios, em linha com as suas próprias políticas para facilitar a instalação de infraestruturas que permitam gerar investimento e maior bem-estar para os cidadãos.
Ainda que a região latino-americana seja historicamente uma seguidora em relação à adoção de novas tecnologias, o 5G é o padrão de implantação mais rápido com exemplos claros de liderança como o Brasil. Por exemplo, o porto de Santos, o maior do Brasil e da América Latina, realizou um processo de digitalização de suas operações, numa colaboração entre a Nokia, a TIM e o governo brasileiro.
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Gallitto reconhece que a atenção a esses processos de digitalização levará algum tempo, pois várias áreas devem ser coordenadas, incluindo regulação, infraestrutura e modelos de negócios, para oferecer confiança e segurança.
Um dos temas relevantes para a edição do MWC 2023 foi o tema do espectro, já que a indústria se prepara para as discussões na próxima Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC) no final do ano, onde será debatido o futuro de bandas relevantes como 6 GHz, 3,5 GHz e UHF.
Recentemente, o Instituto Federal de Telecomunicações (IFT) do México decidiu alocar a parte inferior da banda de 6 GHz para serviços não licenciados, como WiFi, enquanto a parte superior aguarda os resultados do CMR.
Gallitto advertiu que, caso falte de espectro de 6 GHz para serviços móveis, a banda de 3,5 GHz sofrerá maior pressão para oferecer serviços, então “o México provavelmente não terá a possibilidade de entregar 5G de acordo com o padrão IMT 2020 e acabará sendo prejudicial, porque essa ferramenta de produtividade vai ficar limitada”.
“É preciso ter essa visão estratégica de médio prazo, em que o 5G atenderá a indústria mexicana de forma relevante e transversal. É importante entender como está amadurecendo”, destacou.
Apesar do exposto, considerou que a decisão do IFT foi “razoável porque ainda não sabemos para onde está evoluindo o ecossistema”, e podem errar ao cair na expectativa de certas tecnologias, como o WIMAX. “Às vezes, o ecossistema amadurece de maneiras muito diferentes, o que é importante levar em consideração para ter flexibilidade para aproveitar os recursos”, acrescentou.
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No caso da Colômbia, que também prepara novas licitações de espectro, o gerente destacou que o país não precisa necessariamente seguir outras nações da região, como o Brasil, que teve uma licitação de espectro 5G bem-sucedida com foco na expansão da infraestrutura.
Sobre isso, Gallito explicou que o caso do Brasil foi um processo plurianual e não uma licitação isolada. Antes da licitação, foi apresentada uma lei de infraestrutura para facilitar a implantação, o mercado móvel se consolidou e outras regulamentações do segmento foram revisadas.
“Não deu certo apenas pelo modelo de licitação, deu certo porque não foi arrecadatória, porque foi revista a estrutura do mercado, porque foi revista a implantação da infraestrutura e deu certezas ao setor, que são questões amigas para os investimentos de longo prazo em indústrias de capital intensivo”, disse em entrevista.
Nesse sentido, Gallito considerou que a região não deve se preocupar tanto em ficar para trás na implantação dos serviços 5G, “mas em ir longe com as condições certas para que os investimentos possam fluir e haja certeza”.