Um relatório recente da ONG Global Witness revelou que o Facebook está falhando no combate à desinformação eleitoral no Brasil. A rede social permitiu a publicação de 10 anúncios com informações falsas sobre as eleições no país, que acontecem em outubro.
Para fazer o teste, a Global Witness usou posts reais e exemplos destacados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para submeter os anúncios ao Facebook, sendo cinco com informações falsas sobre a eleição e cinco que tentavam deslegitimar o processo eleitoral brasileiro. Todos em português.
Apenas uma das publicações foi rejeitada inicialmente devido à política sobre “temas sociais, eleições ou política”, mas o material foi aprovado seis dias depois sem intervenção da entidade e sem explicação. Com isso, todos os exemplos de desinformação foram aprovados.
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A Global Witness afirma que o conteúdo tinha informações falsas sobre quando e onde votar; métodos de votação, como voto por correspondência; e também questionavam a integridade das urnas eletrônicas.
Os anúncios foram escolhidos porque o Facebook permite remover o conteúdo antes que sejam publicados, enquanto estão sendo analisados e passando pelo processo de moderação de conteúdo, que inclui uma análise proativa com ferramentas manuais e automatizadas.
Problemas
Alguns pontos preocupantes destacados pela ONG foram que não foi necessário verificar a conta para publicar anúncios –“o que viola as políticas da Meta sobre quem tem permissão para fazer anúncios de conteúdo político”–, os posts foram feitos de Nairóbi e de Londres e o pagamento não foi feito por um meio brasileiro, o que deveria servir de alerta pelo conteúdo. Além disso, não foi necessário colocar o rótulo “pago por”.
“Tudo isso levanta sérias preocupações sobre possíveis interferências internacionais nas eleições e revela a incapacidade do Facebook de perceber sinais de alerta evidentes”, diz a Global Witness.
Por isso, a ONG convida a plataforma a aumentar os recursos de moderação de conteúdo; fortalecer o processo de verificação de contas de anúncios; apresentar os detalhes completos de todos os anúncios na biblioteca de anúncios; publicar sua avaliação de risco pré-eleitoral para o Brasil, entre outras ações.
Eleições no Brasil
As eleições no Brasil acontecem no dia 2 e 30 de outubro, caso tenha segundo turno, e a desinformação pode desempenhar um papel relevante no processo, assim como nas eleições gerais de 2018.
O tema é tão importante que o TSE criou o Programa de Combate à Desinformação. Uma das ações é o acordo com diversas redes sociais para enfrentar as fake news por meio de compromissos.
Neste ano, um dos principais alvos de desinformação tem sido a urna eletrônica, um sistema seguro que pode ser auditado antes, durante e depois da votação, para descredibilizar o resultado das eleições.
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Veja as recomendações da Global Witness ao Facebook:
- Aumentar urgentemente seus recursos de moderação de conteúdo e os sistemas de integridade implantados para mitigar o risco antes, durante e depois das próximas eleições brasileiras – e garantir que os moderadores entendam o contexto cultural apropriado e as nuances da política brasileira.
- Fortalecer imediatamente seu processo de verificação de contas de anúncios para identificar melhor aquelas que publicam conteúdo prejudicial à integridade das eleições.
- Disponibilizar recursos adequados de moderação de conteúdo em todos os seus países de atuação. Isso inclui dar aos moderadores de conteúdo pago um salário justo, apoio psicológico e permissão para que se sindicalizem.
- Avaliar, mitigar e publicar rotineiramente os riscos que seus serviços apresentam aos direitos humanos e outros danos sociais em todos os seus países de atuação.
- Publicar informações sobre as medidas adotadas em cada país e cada idioma para garantir a integridade das eleições.
- Apresentar os detalhes completos de todos os anúncios (incluindo público-alvo pretendido, público real, gastos com anúncios e compradores dos anúncios) em sua biblioteca de anúncios.
- Permitir auditoria independente de terceiros para que a Meta tenha de prestar contas pelo que alega estar fazendo.
- Publicar sua avaliação de risco pré-eleitoral para o Brasil.
- Responder às recomendações de políticas de mais de 90 organizações da sociedade civil brasileiras em seu relatório O papel das plataformas digitais na proteção da integridade eleitoral em 2022.