Inteligência Artificial requer um novo contrato social para a era digital: Gianluca Misuraca

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Quando se pensa em Inteligência Artificial (IA) no futuro, é comum imaginar robôs que dominam o mundo ou que aprendem a ter sentimentos, como no filme A.I. – Inteligência Artificial. Mas aonde vamos chegar na vida real?

Em entrevista à DPL News, Gianluca Misuraca*, fundador e vice-presidente da Inspiring Futures, com responsabilidade pela diplomacia tecnológica e governança digital, avalia que a tecnologia poderá ser usada para melhorar a qualidade de vida da população se os sistemas forem usados ​​”de forma inteligente”. Ele também ponderou os riscos da IA e fez recomendações para os países aproveitarem as oportunidades da tecnologia.

Visão do Futuro

“O setor público tem que, por definição, servir aos cidadãos e em particular àqueles que estão em condições desfavorecidas. Deve-se aproveitar o uso dessa tecnologia, por exemplo, para serviços sociais ou para ajudar na empregabilidade dos cidadãos”.

Misuraca diz que os algoritmos podem ser usados para oferecer um serviço proativo e personalizado para dizer qual trabalho seria melhor para cada pessoa e melhorar a empregabilidade dela, além de evitar fraudes de benefícios sociais.

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As vantagens na indústria são observadas, de forma inicial, em alguns setores. No México, a Audi analisa e identifica falhas em carros por meio das informações fornecidas pelos sistemas de produção, o que reduziu as falhas em, pelo menos, 15%.

O especialista também estima que “uma possível aplicação da IA será realizar trabalhos que o homem faz porque é obrigado, mas que não tem prazer em fazê-lo, ou trabalhos rotineiros, muito pesados e perigosos. Então o homem pode estar ali apenas para fiscalizar e controlar em caso de problemas“, comentou.

“Por outro lado, há pessoas desempregadas e é por isso que temos que procurar novas formas de distribuir recursos. Isso requer um novo contrato social para a era digital, um novo sistema tributário, uma nova capacidade de organizar o trabalho”, além de um sistema previdenciário avançado, que permita essa flexibilidade no mundo do trabalho e uma mudança da forma como a sociedade funciona.

Riscos e recomendações

Um fator bastante conhecido em relação aos algoritmos é o risco de discriminação de mulheres e pessoas negras, por exemplo. “Embora o algoritmo seja muito bom, ele também pode criar discriminação se os dados não são de boa qualidade”, menciona Misuraca.

Ele cita o caso do Reino Unido, que usou um algoritmo para avaliar estudantes que não puderam realizar exames devido à pandemia de Covid-19 em 2020. O modelo favoreceu alunos de escolas particulares e de áreas mais ricas e prejudicou os alunos de alto desempenho de escolas públicas, inclusive impedindo esses jovens de entrar em determinadas universidades.

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Misuraca explica que é necessário assegurar a boa qualidade dos dados, garantir que princípios éticos sejam colocados na construção do algoritmo – Ethics by Design – e que tenha supervisão humana quando for possível, para que as decisões não sejam completamente automatizadas.

Ele também recomenda aos países que coloquem regras certas e claras para lidar com as desigualdades entre cidades com desenvolvimento elevado de tecnologia e regiões menos desenvolvidas. Além de cuidar para que os sistemas não favoreçam grupos extremistas ou sistemas autoritários.

“[Nessas regras] tem que usar os princípios básicos e aprender com os erros cometidos em alguns países”, disse Misuraca. Por esse motivo, os fóruns de discussão são elementos fundamentais para o desenvolvimento da IA.

Em relação à regulamentação, ele defende a visão human-centric (centrada no ser humano) da IA. Isso não quer dizer que deve ser apenas focada no homem, “mas também deve ajudar o ser humano, ser uma tecnologia mais inclusiva, responsável e útil para o desenvolvimento humano e da sociedade”. 

Ao mesmo tempo, é importante que as normas não freiem a inovação e o desenvolvimento econômico. “Essa coisa de regulamentação é muito complicada porque tentam fazer uma análise sobre qual seria o impacto de uma lei para algo que a gente não sabe como vai evoluir. Isso é complicado, senão impossível”.

Pode ser uma questão de 20 ou 30 anos para que tenhamos sistemas efetivamente inteligentes, acredita Misuraca. E boa parte do caminho ainda precisa ser trilhado: “Precisamos de competência, vontade política, liderança, formação para entender e aproveitar a complexidade que existe nisso. Precisamos também de decisões inovadoras, que mudem radicalmente as organizações e o setor público, que utilizam sistemas muito antigos de decisão política e decisão pública”.

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*Gianluca Misuraca é fundador e vice-presidente da Inspiring Futures com responsabilidade pela diplomacia tecnológica e governança digital, diretor do mestrado AI4GOV e líder da InTouchAI.eu, grupo de apoio à Comissão Europeia.

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