São Paulo, Brasil.- As primeiras horas da Febraban Tech 2025 que começou nesta terça-feira (10) e vai até a quinta-feira (12), reuniu os principais executivos do setor bancário brasileiro, entre eles Gabriel Galípolo (BCB), Taciana Medeiros (BB), Milton Maluhy (Itaú), Marcelo Noronha (Bradesco), Roberto Sallouti (BTG Pactual) e Carlos Vieira (Caixa). Como já era esperado, a inteligência artificial (IA) dominou a conversa e não só como tecnologia de apoio, mas como discurso estruturante da transformação digital do setor.
Milton Maluhy destacou que o Itaú já tem mais de 50 projetos voltados para IA generativa, enquanto o Bradesco afirmou utilizar a tecnologia para turbinar sua assistente BIA, que atende 24 milhões de clientes. No BTG, o uso de dados foi apontado como estratégia para segmentar e monetizar cada cliente de forma mais eficiente. A palavra-chave foi “hiperpersonalização”; repetida por vários executivos como promessa de um novo patamar de relacionamento com o consumidor.
Nesse cenário, o Banco Central também reforçou sua agenda tecnológica. Gabriel Galípolo apresentou iniciativas previstas para os próximos meses, incluindo novas funcionalidades do Pix, como o “Pix Med 2.0”, que permitirá contestações e pedidos de restituição em casos de fraudes; e o uso do Pix para crédito imobiliário como uma espécie de garantia.
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O Drex, primeiramente chamado de Real Digital, a versão tokenizada da moeda nacional, também deve avançar, com base em contratos inteligentes e DLT (tecnologia de registros distribuídos), com a promessa de facilitar transações, ampliar garantias e reduzir riscos para quem oferece e toma crédito.
Apesar da diversidade de temas em pauta, a inteligência artificial foi tratada como ponto central da estratégia bancária. Além da busca por eficiência operacional, os CEOs apostam na tecnologia como meio de reposicionamento no mercado: de bancos transacionais para instituições consultivas, com serviços sob medida e cultura orientada por dados. A tendência segue um movimento global, mas o entusiasmo generalizado com a IA também revela certa homogeneização do discurso no setor.
Para um público mais técnico e voltado mais para o B2B do que B2C, o excesso de foco nesse tema pode soar repetitivo. Se por um lado a IA de fato já impacta serviços e processos, por outro, a insistência em associá-la a quase toda inovação anunciada reforça a pressão (talvez mais mercadológica do que prática) por mostrar aderência a uma agenda tecnológica dominante.
Como pontuou a presidente do Banco do Brasil, Taciane Medeiros, em sua fala inicial, “A tecnologia é transversal e não é uma questão de adoção da tecnologia pela tecnologia simplesmente”, não se trata mais de provar que se usa IA, isso virou obrigação.
Então a pergunta que fica é: há de fato uma revolução em curso ou apenas um alinhamento com a narrativa dominante da indústria? Mais dois dias de evento com muita fala sobre IA pela frente, dirão.