O hábito de fazer compras pela Internet se consolidou entre os brasileiros no ano passado, mostra a quarta edição do Painel TIC Covid-19, estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). A pesquisa realizada em julho de 2021 revelou que o hábito do comércio eletrônico se manteve em um nível alto no segundo ano de pandemia e superior ao contexto pré-pandêmico.
“A quarta edição do Painel TIC mostra que 51% dos usuários de Internet compraram produtos e serviços online [nos últimos três meses]”, comentou Fabio Storino, coordenador da pesquisa no Cetic.br|NIC.br, durante a divulgação do estudo. Para efeitos de comparação, na pesquisa TIC Domicílios 2018 – antes da pandemia –, apenas 38% dos usuários tinham comprado online.
O número é consideravelmente maior nas classes AB, em que 81% dos usuários compraram online. Na classe C, o número é de 50% e, nas classes DE, 30%.
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Uma mudança interessante de 2020 para 2021 é o perfil da compra, passando de algo mais emergencial como comida e remédio para uma cesta mais diversificada, com bens cotidianos, incluindo vestuário, eletrodomésticos ou eletrônicos, disse Storino.
O coordenador da pesquisa também destacou a utilização do Pix, que foi o segundo meio mais utilizado para fazer pagamentos online, apontado por 72% das pessoas. Em julho, quando a pesquisa foi realizada, o Pix tinha apenas oito meses de atividade.
A forma mais utilizada é o cartão de crédito, apontada por 76% dos entrevistados, e, em terceiro lugar, o boleto bancário, usado por 65%.
Serviços públicos online
Em relação à busca de informações ou realização de serviços públicos online, 85% dos usuários utilizaram governo eletrônico, principalmente relacionados à saúde pública, pontuado por 53% dos entrevistados. Entre as pessoas com mais de 60 anos, o número chegou a 57%. Isso pode ter relação com o início da campanha de vacinação contra a Covid-19, que foi voltada para os idosos no primeiro semestre de 2021.
Aproximadamente 50% dos usuários usaram serviços públicos digitais para documentos pessoais e 48%, para direitos do trabalhador ou previdência social, como o auxílio emergencial e seguro-desemprego.
Telessaúde
Cerca de 26% das pessoas com 16 anos ou mais realizou consulta médica ou com profissional da saúde pela Internet. A maior parte deles, 59%, usou aplicativos de mensagens para fazer as consultas; 35% utilizou aplicativo da rede pública; 34% usou aplicativo de plano de saúde; e 31%, aplicativo de videochamada.
Para outros serviços, como visualização de exames e agendamento de consultas, 47% dos entrevistados o fizeram pela Internet.
Ensino remoto
Dos usuários que frequentavam escola ou universidade, 63% afirmaram que a instituição ofertou aulas ou atividades educacionais remotas e 19% disseram que teve modalidade híbrida.
O dispositivo mais utilizado para acompanhar as atividades escolares foi o celular, apontado por 46% dos entrevistados. Outros 21% utilizaram um notebook e 10%, um computador de mesa.
“Nas classes AB, a maioria acompanhou por meio de um computador (39% por notebook e 21% por computador de mesa). E quase dois terços das classes DE (64%) acompanharam essas aulas ou atividades educacionais remotas por meio de um telefone celular. Então temos questões relacionadas a como foi o aproveitamento dessas aulas oferecidas por tipo de dispositivo”, comentou Storino.
Teletrabalho
Entre os usuários com 16 anos ou mais que trabalharam durante a pandemia, 38% deles o fizeram de forma remota. Destes, 80% realizaram teletrabalho como consequência de distanciamento social.
Outro dado interessante é a proporção de pessoas que trabalharam por intermédio de aplicativos. Cerca de 60% deles começaram o trabalho devido à pandemia de Covid-19, “seja como forma de complementar a renda do trabalho principal, seja enquanto trabalho principal”.
Panorama
O gerente do Cetic.br|NIC.br, Alexandre Barbosa, ressalta que a tendência de digitalização como efeito da pandemia teve continuidade no primeiro semestre de 2021 em atividades de comércio eletrônico e de serviços públicos online, “o que indica que as transformações verificadas no período podem ter um caráter mais permanente na sociedade”, comentou.
“Contudo, as disparidades seguem sendo um ponto relevante de atenção para as políticas públicas. Ainda que as classes C, D e E tenham passado a realizar mais atividades pela Internet, isso continua ocorrendo em um patamar inferior ao observado nas classes A e B. Esse quadro ressalta a importância de políticas públicas voltadas para a redução dessas desigualdades”, completou Barbosa.