Do hype ao chão de fábrica: Michael Bushong desmonta mitos da IA nos data centers

São Paulo, Brasil.– Com um tom direto e crítico, Michael Bushong, vice-presidente de nuvem e soluções corporativas da Nokia, apresentou uma visão pragmática sobre o futuro da infraestrutura digital durante palestra realizada no evento LACNIC 43.

Longe dos discursos que cercam a inteligência artificial (IA), Bushong abordou as reais limitações e potenciais transformações que a IA pode trazer ao setor de data centers, principalmente fora do círculo das big techs.

“Se você perguntar a alguém onde o data center está indo, você vai começar a receber slides”, brincou logo no início, criticando a superficialidade com que a transformação digital é retratada em muitas apresentações corporativas. Para ele, “os marqueteiros acreditam que o futuro é digital”, mas a realidade operacional exige mais do que buzzwords e imagens genéricas de nuvens.

Bushong reconheceu que “a inteligência artificial será uma grande parte dos data centers no futuro”, mas foi enfático ao dizer que o hype muitas vezes mascara a realidade do setor. “Fora das quatro ou cinco empresas que estão construindo IA (Amazon, Meta, Google, Microsoft) quase ninguém está implementando clusters de larga escala.”

Ele destacou que apenas cerca de uma dúzia de empresas no mundo têm capacidade técnica e financeira para treinar modelos de base em escala significativa, como os LLMs (large language models).

De fato, o investimento em infraestrutura por essas empresas é bilionário. A Meta, por exemplo, aumentou seu capital de investimento (Capex) para US$ 38 bilhões em 2024, com foco em IA e expansão de data centers. No entanto, Bushong alertou que essas iniciativas não representam o mercado como um todo. “Quantos de vocês têm um data center que pode suportar um megawatt de rack? Nem uma pessoa? Isso é chocante”, disse para a plateia que não se manifestou.

Ao invés de um foco exclusivo em grandes clusters de treinamento, Bushong acredita que o impacto mais relevante da IA virá do uso distribuído, especialmente no que se refere à inferência, a etapa de aplicação dos modelos treinados. “O inferencing vai favorecer uma distribuição mais ampla, porque coisas como performance e latência realmente importam. Você vai até ver o inferencing acontecendo no handset.”

Esse movimento já se reflete no mercado. A Apple, por exemplo, anunciou em 2023 que chips como o M3 trazem capacidades de IA para dispositivos como iPhones e Macs, viabilizando inferência local com consumo eficiente de energia.

Bushong também foi categórico ao afirmar que a IA, por si só, não garante retorno. “Quando a IA saiu, todas as empresas do mundo tiveram pressão para responder: o que vamos fazer com a IA? A resposta foi: vamos começar alguns projetos. Mas agora as pessoas estão descobrindo que o link entre um projeto de IA e o próprio lucro não é tão direto quanto se imaginava.”

Finalizando com uma visão que equilibra tecnologia e realismo, Bushong defendeu que o futuro da infraestrutura digital será guiado não por promessas espetaculares, mas pela capacidade de resolver problemas do cotidiano. “O marketing tem uma direção, mas o que vai levar à adoção é se isso resolve o que temos que fazer no dia a dia. São rotinas, e temos que admitir isso.”

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