Falta de políticas públicas e excesso regulatório são entraves para a conectividade na América Latina, alertam reguladores

Salvador, Bahia.- A falta de políticas públicas transversais e de investimento em infraestrutura, bem como o excesso regulatório, foram observados como os principais entraves para a expansão da conectividade e inclusão digital na América Latina, durante painel desta quarta-feira, 4, do ICT LAC Summit, que reúne 16 países da região, entre reguladores, governos e empresas, para debater uma visão digital unificada.

Maryleana Méndez, secretária-executiva da Associação Interamericana de Empresas de Telecomunicações (Asiet), ressaltou que, primeiramente, não é possível falar de tecnologia sem olhar para ela como um direito. Ao abordar a questão da regulação, pontuou que políticas públicas transversais são fundamentais para atender às realidades específicas de cada país, defendendo a transversalidade para abranger decisões que impactam todos os setores produtivos e o setor público.

Méndez alertou ainda sobre os desafios de sustentabilidade financeira para a expansão tecnológica, destacando que serão necessários investimentos adicionais de US$ 17 bilhões na região nos próximos anos. “Sem ações coordenadas entre governos, empresas e comunidades, o avanço será limitado”, afirmou.

Regulação e infraestrutura

Já na visão de Gabriel Székely, diretor geral da Associação Nacional de Telecomunicações (Anatel) do México, o excesso de regulamentações têm sido um entrave à competitividade na América Latina. Ele destacou a urgência de uma nova abordagem estatística para entender o impacto real da economia digital, considerando os diferentes contextos de cada país.

Para ele, a baixa integração regional é outro entrave. “A América Latina ainda está distante de alcançar níveis que permitam a troca de conhecimentos e o avanço conjunto”. Ainda que o Brasil e o Chile estejam emergindo na construção de um ambiente mais favorável à conectividade, graças à colaboração entre empresas e governos, ainda estão muito focados em suas próprias realidades, enquanto o México é impactado por uma economia bastante influenciada pelos EUA, que pouco ou nada tem a ver com a região, apontou.

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Apesar dos avanços, no Brasil cerca de 10% da população ainda não tem acesso à internet, principalmente devido a limitações econômicas e do analfabetismo digital, apontou Mariana Abreu da Conexis Brasil Digital. Com dados do NIC.br, ela ressaltou que 70% das famílias desconectadas no país têm renda baixa, e 85% dos indivíduos nessa situação não completaram o ensino fundamental. 

Para combater essa exclusão, Abreu propôs políticas públicas que considerem isenções tributárias e subsídios para viabilizar o acesso à internet. “Não basta construir infraestrutura; é preciso garantir que ela seja acessível e aproveitada por todos”, enfatizou.