Nokia quer alavancar novos modelos de negócio por meio do Open Gateway

A Nokia tem traçado uma trajetória sólida nas telecomunicações, tendo recentemente implementado a primeira rede 5G da Costa Rica. Como uma das principais empresas engajadas no Open Gateway, em um esforço que visa a padronização e a interoperabilidade entre operadoras por meio de APIs abertas, investe em soluções que não só facilitam a implementação desses serviços, mas também em formas de monetizá-los.

Com mais de 20 acordos globais no Open Gateway e parcerias estratégicas com empresas como Infobip e Google, a Nokia quer explorar o potencial deste mercado estimado entre US$ 10 a 30 bilhões até 2028. Carlos Gramajo, vice-presidente de cloud e network services da Nokia para a América Latina, discute esses e outros temas na entrevista a seguir:

DPL News: Como a Nokia está posicionada na implementação do Open Gateway? Qual é a participação da empresa nesse tema?

Carlos Gramajo: Nós temos uma participação muito ativa a nível global com cerca de 20 acordos já há bastante tempo, pelo menos três anos. Temos investido muito nesse tema e, de fato, no último MWC em Barcelona, houve o Hackathon baseado na nossa plataforma Nokia Network as Code, que já completou um ano de lançamento. Aqui na região temos dois acordos já assinados, um deles aqui no Brasil que ainda não é público, pois faltam algumas cláusulas adicionais. O que temos de público, já anunciado, é da Telecom na Argentina.

DPL News: Em um contexto mais técnico, com várias operadoras adotando APIs abertas, como a Nokia facilita a padronização e a interoperabilidade entre elas, garantindo uma colaboração sem fricções?

Carlos Gramajo: Você tocou em um ponto crítico. Essa é uma evolução importante no desenvolvimento das plataformas. Hoje, as APIs que utilizamos, como Device Location e Identity Management, são mais simples e amplamente adotadas, principalmente em setores como o bancário, onde são usadas para validar a identidade do usuário e garantir transações seguras.

Essas APIs são o que chamamos de “básicas” no mercado atual. No entanto, na Nokia, estamos trabalhando em APIs de maior valor agregado, como Quality on Demand, que ajudam nossos clientes a desenvolver soluções específicas para digitalização. A interoperabilidade é essencial nesse processo, e é por isso que participamos ativamente do desenvolvimento junto à Câmara e ao Open Gateway, buscando padronizar definições e garantir tanto a segurança quanto a interoperabilidade das APIs.

DPL News: Interessante. Agora, uma coisa na qual as operadoras estão muito interessadas, nisso e em qualquer coisa que elas façam, é monetizar. Em toda essa conversa, já existe alguma garantia de retorno financeiro para elas?

Carlos Gramajo: É uma boa pergunta. Primeiro, tem um mercado potencial? Tem. Analisando alguns estudos de mercado, inclusive os nossos, realizados pelo Bell Labs para a região, vemos esse potencial claramente. Se olharmos para estudos públicos, como os da McKinsey, eles estimam um mercado de 10 a 30 bilhões de dólares até 2028. Então, o potencial está lá. O desafio é como acelerar a maturidade do desenvolvimento dessas APIs no mercado. O Brasil, por exemplo, é um dos mercados mais avançados da região, e até do mundo, com o acordo feito pelas três principais operadoras. 

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A Infobip é uma dessas fornecedoras de plataformas, e nós, na Nokia, também temos parcerias com a Infobip e com a Google para abrir essas APIs aos desenvolvedores. Vejo um grande potencial, mas ainda é um mercado novo para todos, então não podemos garantir resultados. No entanto, o mercado está aí, e precisamos avançar rapidamente nos modelos comerciais para testar e comprovar o impacto que podemos ter nesse segmento.

DPL News: Você comentou de sua plataforma anteriormente, mas queremos saber: existe alguma outra solução na qual vocês estejam trabalhando que é inédita ou específica para algum segmento? Quais novidades podemos esperar da Nókia?

Carlos Gramajo: Sem dúvida. Temos um portfólio muito abrangente, com foco em redes privativas para diversos setores. Um exemplo é nossa solução para um dos maiores portos da Bélgica, usando APIs e network slicing para automatizar a entrada de navios. Também atuamos na agroindústria com drones que aumentam a eficiência. Outro destaque é o investimento em inteligência artificial, aplicada em operações de rede e cibersegurança com o CyberDome. Além disso, usamos IA para eficiência energética, mas o sucesso depende de dados limpos e seguros, o que ainda apresenta desafios.

DPL News: E quanto ao Open Gateway, já há implementação de IA generativa nas APIs?

Carlos Gramajo: Nós, por enquanto, não estamos usando especificamente para o Open Gateway em particular. É utilizada a inteligência artificial para todos os temas que sejam com customer experience e esse tipo de questões. Porém eu acho que ainda a gente tem coisas muito mais básicas para se preocupar para chegar a usar inteligência artificial. Ainda a gente não consegue monetizar as APIs como para a gente conseguir começar agora a pensar como o Gen AI poderia aproveitar para ajudar nesse processo de lançar novos produtos no mercado.

DPL News: Bom, por último, não posso deixar de perguntar como vocês se veem posicionados frente à concorrência com a Ericsson e a Huawei?

Carlos Gramajo: Temos um enorme potencial nas redes privativas, onde nos destacamos como líderes com mais de 760 implementações globais e mais de 25 na América Latina. O nosso conhecimento das indústrias nos permite oferecer soluções personalizadas. Além disso, contamos com uma plataforma robusta que não apenas facilita a exposição, mas também abre oportunidades para desenvolvedores, promovendo a inovação. Trabalhamos com fornecedores renomados como a Infobip, que tem presença local, e com a Google, que garante a estabilidade global. Acredito que esses fatores mostram como estamos realmente muito bem posicionados para atender às demandas do mercado.

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