Brasil | Especialistas debatem como levar diversidade para a tecnologia

Programação do evento segue até esta sexta-feira (3) com workshops e sessões plenárias que analisam temas diversos do universo da governança da Internet.

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Em sua 12ª edição, o Fórum da Internet no Brasil (FIB), evento promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), reuniu na manhã desta quarta-feira (1º) na cidade de Natal (RN) especialistas de renome em torno do debate sobre “Diversidade e Gênero nas TIC: uma agenda para inclusão e representatividade”.

Mediadora da sessão principal sobre diversidade e gênero nas TIC, Laura Tresca (conselheira do CGI.br), destacou que homens e mulheres não se beneficiam da sociedade do conhecimento de maneira igualitária, e que é necessário conhecer as desigualdades para promover avanços. Ela ressaltou ainda que recentemente o CGI.br assumiu uma agenda de trabalho sobre diversidade.

“Resolvemos, como Comitê Gestor da Internet, responsável por formular diretrizes para o desenvolvimento da Internet no Brasil, fazer consultas a especialistas sobre quais eram os desafios para a promoção da igualdade de gênero na Internet, e como apresentar uma agenda de atuação não só para o CGI.br, mas para toda a sociedade”, afirmou. Os desafios listados são: aprofundar a produção de dados; inclusão digital não restrita simplesmente ao acesso, mas que contemple a produção de tecnologias; enfrentamento da violência de gênero e de raça; participação na governança da Internet e fomento à diversidade.

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De forma complementar, Biamichelle Miranda (consultora em diversidade e inclusão e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) enfatizou a importância de abordar a questão da diversidade de gênero de forma ampla, incluindo também travestis e mulheres transsexuais. Para ela, o primeiro desafio é olhar os diferentes grupos de diversidade e entender que, dentro de cada um, há outros grupos, com suas especificidades. Além disso a inclusão de pessoas negras na tecnologia, a pesquisadora da PUC-RS disse que os desafios enfrentados são os mesmos da comunidade negra como um todo: combater o racismo em todas as suas formas, institucional, cultural e estrutural. “Estamos caminhando, mas ainda muito distantes de onde queremos chegar”.

Neutralidade em xeque

Na avaliação de Clara Marinho, consultora das Nações Unidas para a Década Afrodescendente, a tecnologia não é neutra e está inserida num contexto social específico. “Ainda que o Brasil tenha uma população negra em maioria, a tecnologia expressa uma visão de que há pessoas que têm recursos materiais e simbólicos maiores do que outras. Há uma escala de humanidades, e ela se reverbera na tecnologia”.

Renata Gusmão (líder de transformação social da ThoughtWorks) apontou que um grupo muito homogêneo pensa e constrói soluções na área, ao mesmo tempo, impactando uma diversidade de pessoas. “Como trazemos essa diversidade para dentro do processo de pensar a tecnologia? E como ela pode resolver de verdade problemas das pessoas, e não apenas para um grupo tão pequeno?”, indagou, completando que essa questão fica ainda mais explícita num contexto de desigualdades. “Ao mesmo tempo em que a área está versando sobre metaverso, muita gente não tem acesso nem a Wi-Fi”.

Para ela, é preciso criar novas referências, de forma que as diversidades possam ser melhor acolhidas e para que o ambiente se torne menos hostil. “Quando olhamos para as referências de quem está tomando as decisões, muitas vezes, encontramos homens brancos, héteros, cis, sem deficiência. Isso faz com que nas nossas subjetividades fique essa ideia de que, para estar lá, tem que seguir esse modelo. É necessário construir novas referências, trazer vozes que foram invisibilizadas ao longo do tempo. Para que consigamos evoluir na direção certa, é preciso trazer essa diversidade para dentro da produção de tecnologia”.

Já Marjory da Costa Abreu (professora de ética na Inteligência Artificial na Sheffield Hallam University) falou sobre o uso do aprendizado de máquina para a mitigação das desigualdades de forma geral. De acordo com ela, a tecnologia pode ser uma aliada no combate à discriminação de raça, gênero e orientação sexual. Daiane Araújo dos Santos (coordenadora da rede comunitária da Casa dos Meninos), por sua vez, afirmou que as tecnologias digitais ainda são pouco utilizadas como ferramenta para a diminuição das desigualdades. “Precisamos fazer esse movimento com mais força e efetividade”.

Cristiano Maciel, que representou o projeto Meninas Digitais Mato Grosso, defendeu que a tecnologia pode contribuir para a diversidade na TI – numa perspectiva que vai além do gênero, e abarca raça e etnia, perfil escolar, faixa etária e grupo social. Persistência, pluralidade, praticidade, parceria, fortalecimento, pioneirismo e produtividade são fatores-chave para que isso aconteça. “Falando um pouco sobre nossas iniciativas, percebo que cada vez mais é necessário ser interdisciplinar e intersetorial. Precisamos sair dos quadrados e começar a conectar as partes para fazer discussões mais produtivas”, afirmou.

Para ele, mais do que questionar se houve avanços ou retrocessos na questão da representatividade, é necessário seguir lutando em rede, ter também homens nessa luta, ter mais mulheres nos postos de liderança e promover o valor da diversidade. Entre os desafios apresentados por Maciel estão: educação que de fato liberte, atuar na construção de políticas públicas, atuar com o mercado de trabalho, buscar mais apoios institucionais e financiamentos, usar a tecnologia para promoção da pauta e criar oportunidades de debates.

*Com assessoria de imprensa.