Mesmo perto da universalização, Brasil ainda tem “uma Venezuela” desconectada

Estudo sobre conectividade significativa do Cetic.br revela que 85% do Brasil tem acesso à internet, mas só 22% em níveis satisfatórios.

O Brasil caminha para a conectividade universal, mas considerando suas dimensões, um pouco mais do equivalente à população total da Venezuela (15%) ainda está desconectada. 

O estudo “Conectividade Significativa: propostas para medição e o retrato da população no Brasil”, lançado nesta terça, 16, pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) evidenciou as disparidades de acesso por região, mas mostra que os indicadores melhoraram entre 2017 e 2023.

Em uma escala de 0 a 9 que mede o nível de conectividade significativa no país, na qual 0 não possui, e 9 possui todos os requisitos como acesso a equipamentos, bons custos, qualidade de conexão e habilidades digitais básicas, o estado de São Paulo, capital financeira do Brasil, destaca-se com o melhor desempenho com um score entre 7 e 9.

O maior grupo possui um score de 0 a 2 pontos, concentrando um terço da população (33%), notadamente as regiões norte e nordeste que tiveram, respectivamente, os indicadores mais baixos: apenas 11% e 10% da população possui acesso de qualidade.

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Quanto à faixa etária e, contrariando o senso comum, crianças (10 a 15) e jovens (16 a 24) não são os possuidores dos melhores indicadores. Os níveis mais elevados estão entre a faixa etária inserida e estabelecida no mercado de trabalho: grupos entre 25 e 44 anos. Já os idosos são os mais excluídos digitalmente. Mais da metade das pessoas com mais de 60 anos (61%) se concentram na escala de 0 a 2 pontos.

Conectividade significativa na América Latina

Entre os países da região, Brasil, Chile, Colômbia, Panamá e Uruguai se destacam por terem altas velocidades de download de banda larga fixa, superando a média global e equiparando-se a economias avançadas como Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. O Chile, em particular, se destaca com uma velocidade média de download próxima a 280 Mbps.

Em 2021, a penetração média da banda larga fixa nos domicílios da região atingiu cerca de 62%, muito abaixo das regiões mencionadas, que têm níveis de penetração próximos a 100% e 90%, respectivamente. 

O acesso aos serviços de internet de banda larga na América Latina e no Caribe apresenta desafios significativos, apesar dos esforços para universalizar esse acesso na última década. 

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Enquanto houve um crescimento considerável na penetração da banda larga móvel, aumentando mais de dez vezes entre 2010 e 2021, a penetração da banda larga fixa cresceu apenas cerca de duas vezes, ficando consideravelmente abaixo de outras regiões, como Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte.

Neste contexto, a CEPAL propôs a alocação de uma cesta básica digital, visando proporcionar acesso à conectividade para segmentos de baixa renda, a fim de aproveitarem os benefícios das tecnologias digitais. Essa cesta inclui um plano de banda larga fixa, um plano de banda larga móvel e dispositivos de acesso (smartphone, tablet e notebook). 

Além disso, considera-se a necessidade de múltiplos dispositivos e velocidades de conexão adequadas, especialmente em domicílios com vários membros, que muitas vezes disputam o mesmo dispositivo.