Assim como outras tecnologias, a televisão também evolui, e o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (Fórum SBTVD) é responsável por definir o próximo padrão da TV digital. O objetivo é melhorar a qualidade de imagem e som, tornar a televisão mais acessível e mais fácil de transitar entre o conteúdo ao vivo e Over-the-top (OTT), conta Ana Eliza Faria e Silva, conselheira do Fórum.
Em conversa com a DPL News, a conselheira contou que o Fórum foi criado em 2006 para estabelecer normas da transição da TV analógica para a TV digital. Depois desse período, o grupo – composto pela academia, emissoras, produtoras de TV, produtoras de equipamentos de TV e indústria de software – continuou trabalhando na evolução da tecnologia e, em 2019, começou a primeira fase do projeto TV 3.0.
Fases do projeto TV 3.0
O Fórum estabeleceu requisitos para o próximo padrão da TV digital e lançou uma tomada de subsídios para entender quais eram as tecnologias candidatas para atender às solicitações.
A segunda etapa aconteceu entre 2020 e o final de 2021, em que “os proponentes de tecnologia criaram seus protótipos e softwares e foi feita uma rodada de avaliação”, disse Ana Eliza.
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Os testes possibilitaram definir o modelo conceitual da TV 3.0 e algumas tecnologias, como os sistemas para alerta de emergência. Mas nem todos os requisitos foram atendidos, por isso o grupo está na terceira fase do projeto, pedindo refinamentos dos recursos apresentados.

“A gente está provocando o desenvolvimento de tecnologias”, disse Ana Eliza. “Colocamos requisitos desafiadores, então estamos empurrando a indústria para um direcionamento que acreditamos ser o adequado do Brasil, mas isso requer tempo”.
A previsão do Ministério das Comunicações é que o novo padrão seja implementado a partir de 2025.
Entrega fluida: prioridade para a TV 3.0
A conselheira do Fórum explicou que a principal característica da próxima geração da TV é uma entrega mais simples para o telespectador. “A gente acredita nesse conceito da integração de broadcast e broadband de uma fluida”, disse.
A proposta é que não seja mais necessário pegar o controle remoto, sair da TV ao vivo e acessar o ambiente de aplicativos para consumir algum conteúdo OTT. “A gente quer que essa entrega fique cada vez menos visível para o usuário”, contou.
O grupo também espera que o aparelho seja centrado no gosto do espectador. “Se ele é fã de Big Brother e não quer perder o programa, ainda que ele esteja assistindo um conteúdo fora do ao vivo, a gente consegue avisar que está começando”, exemplificou a conselheira.
Vale destacar que o projeto precisa acontecer em escala, para cerca de 205 milhões de brasileiros que já têm acesso à TV linear, segundo a pesquisa Inside Video 2022. “É uma entrega ambiciosa da TV 3.0”.
Padrão de transmissão
A forma como os espectadores vão receber a informação na televisão ainda não foi definida. Entretanto, já se sabe que será necessário receber dois tipos de conteúdo: da TV aberta e OTT. Portanto, o aparelho vai receber informação por meio de uma antena e por conexão banda larga, ambas funcionando ao mesmo tempo.
Qualidade da imagem
O projeto mira a melhor qualidade disponível atualmente: 8K. “A forma como codificar essa imagem com eficiência, para transportar essa quantidade de informação necessária para formar uma imagem e um vídeo 8K é o que a gente está discutindo”, comentou Ana Eliza.
Espectro
A questão do espectro é uma preocupação para o Fórum porque a transição para a TV 3.0 será simulcast, o que vai causar um congestionamento maior no período de convivência de tecnologia. Como os aparelhos de TV 3.0 não são compatíveis com os sinais atualmente transmitidos, haverá um período de funcionamento simultâneo do serviço atual e do novo serviço.
“É uma conversa que se abre agora com o Ministério das Comunicações e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para o planejamento, dada a realidade e a demanda de canais que a gente tem aqui no Brasil”, afirmou.
E completou dizendo que “está claro para todos dentro do Fórum que será um trabalho bem complexo e que vai demandar algumas restrições, dado o nível de congestionamento que a gente tem hoje. E, se for feita alguma redução do espectro atual, eu não vejo como viabilizar o processo sem prejuízo para o telespectador”.
Apesar da preocupação, o grupo sabe da importância da radiodifusão, que exerce um papel social, traz impacto econômico e oferece entretenimento de forma relevante. “A gente tem uma grande massa de brasileiros que tem na TV aberta a única forma de entretenimento”.
Padrão nacional ou internacional?
As normas que serão definidas pelo Fórum são apenas para o Brasil. Mas Ana Eliza explica que, na época da transição da TV analógica para a TV digital, outros países identificaram similaridades com os requisitos brasileiros e acabaram adotando o mesmo modelo.
A conselheira afirma que o Fórum pretende retomar conversas com órgãos internacionais, fazer parcerias que aproximem o país de centros de tecnologia e estabelecer práticas e coordenação com países que queiram seguir sistemas parecidos.
“Isso amplia o mercado, cria um bloco mais forte e permite que essa tecnologia introduzida no Brasil chegue mais barato para os espectadores, que é o objetivo comum, principalmente aqui na América Latina”, comentou.
Ana Eliza resume o projeto com uma preocupação da televisão para dentro, “para resolver essa esse dilema que a gente tem hoje de milhões de apps, de dificuldade de sintonizar a TV”, e da televisão para frente, “todos os atributos de qualidade, tanto o áudio, o vídeo, tudo que enriquece a oferta de TV“.